Dia 03 de Terra Resplandescente
A Cidade Perdida de Tzatli
Território da Liga Haslanti
Uma sombra se move habilmente pelas ruínas da cidade ancestral tão furtivamente que nem mesmo o vento parece notar. Com agilidade assombrosa, ela se move rapidamente pelos espaços onde, muitos séculos antes, pessoas andavam tranqüilamente na rua, cuidando de suas vidas. Se aquelas pessoas estivessem aqui, agora, não notariam nada.
A sombra se dirige a uma praça onde os restos de uma fonte repousam sob a neve. Ela se revela na forma de um grande tigre branco, andando levemente sobre a neve. O tigre se levanta, apoiando-se nas patas traseiras, e se transmuta, tomando a forma humana de uma bela mulher de cabelos negros como a noite da Calibração, protegida por uma armadura prateada que, juntamente com as peles que ela usa, pouco revela da sua pele que, de tão branca, poderia ser confundida com a neve. Ela observa astutamente o lugar, procurando por sinais - sinais que ela não sabe se encontrará.
Usando seus sentidos aguçados, capazes de perceber um pássaro a milhas de distância, ela não consegue notar a presença de mais ninguém ali. Ainda assim, ela não é pega de surpresa quando ouve uma voz masculina - uma voz que não ouvia há muito.
"Você veio, então."
Ela se volta na direção de onde acredita que veio a voz; finalmente nota um vulto caminhando em sua direção. Como ela desconfiava, essa voz era conhecida e respeitada.
O vulto se aproxima, e ela então nota a feição conhecida. A pele escura, marcada pelas linhas de Moonsilver, os olhos penetrantes de alguém que já estava vivo há milênios.
Rouxinol Bico-de-aço faz uma reverência profunda.
"Tur Nos. É uma honra encontrá-lo depois de tanto tempo."
"Não tenho o hábito de fazer visitas", responde o Lunar ancestral.
"Eu sei. Imagino o que eu possa fazer por você."
"Preciso da sua colaboração. Há uma pessoa que quero encontrar."
Um momento de reflexão e Rouxinol compreende o sentido verdadeiro das palavras que ouviu.
"Tur Nos, você é um dos poucos que ainda lembram da Primeira Era. Essa sua fascinação pelos Solares deveria ter acabado. Mais do que ninguém..."
"Mais do que ninguém eu tenho o direito de procurá-los", interrompe o ancião. "Aceite o fato, Rouxinol. Eles estão voltando. É uma questão de tempo até que reclamem seu lugar de direito."
"Eu bem sei que eles estão voltando. A presença do Touro é uma constante e incômoda lembrança disso. O Pacto..."
"O Pacto de Prata tem as melhores intenções. Eu sei. E concordo com a posição de que os humanos devem aprender a viver por si mesmos. Mas os Solares são os Príncipes da Terra, Rouxinol. Ninguém pode negar isso."
"Não acredito no que você diz, Tur Nos. Você viveu na Primeira Era! Eu tenho apenas visões de minhas vidas passadas, mas você viveu naquela época! Você presenciou os abusos deles! Como pode dizer uma coisa dessas?!"
Rouxinol exaltava-se pouco a pouco com as opiniões de Tur Nos; praticamente todo Lunar achava suas posições arriscadas demais. Ela ia continuar a protestar, mas o ardente olhar do velho Senescal do Sol a fez mudar de idéia. Seus aguçados sentidos a alertavam de que a respiração dele ficava mais e mais intensa, assim como o batimento de seu coração - ele não gostava de ser contrariado.
"Eu me recuso a acreditar que o que aconteceu tenha sido culpa deles. ME RECUSO!" exclamou ele, furioso, golpeando o chão. Com o impacto, mais um pedaço das ruínas veio abaixo.
Rouxinol Bico-de-aço deu graças a Luna por ter a agilidade que tinha; caso contrário teria sido atingida por algum estilhaço. Recuou, com medo do que Tur Nos pudesse fazer.
Ele manteve a mão no lugar do impacto por alguns momentos; fechou os olhos, meditou por alguns instantes, respirou fundo e tentou controlar a fúria que agitava seu coração - a ansiedade o dominava como há muitos séculos não ocorria. Embora ele tivesse sentido isso há muitos séculos, ele se lembrava muito bem da feição do Dragon-Blooded que deu o golpe fatal em Poshidi - e da cara de terror quando ele o alcançou.
Levantou-se vagarosamente, pensando em todos os anos de solidão.
"Por favor, perdoe-me. Eu estou... agitado."
Rouxinol manteve-se quieta.
"Rouxinol, por favor entenda. Eles eram - são os Escolhidos do Sol Inconquistável. São os avatares da perfeição! Não posso conceber que essa falha de virtude tenha vindo de suas Exaltações. Não - não posso conceber isso."
Ela observou o corpo dele se curvando, como se os anos finalmente pesassem sobre ele. Talvez ele tivesse alguma razão, pensou. Talvez, apenas talvez, algo extraordinário tivesse ocorrido - os Solares ERAM, afinal de conta, os avatares da perfeição. Nada menos que isso poderia ser considerado superior à majestade de Luna, nem seria digno do Sol Inconquistável.
Aproximou-se cuidadosamente dele e, ajoelhando-se junto a ele, resolveu dar a sua ajuda.
"Como posso ajudá-lo?"
Tur Nos voltou seu rosto para ela.
"Há alguém que preciso encontrar."
"Conte-me tudo."
E ele contou sobre Poshidi. Sobre como a amara, sobre como a vil traição a levara embora. Sobre como, de alguma maneira, ele soubera que ela finalmente havia voltado, depois de tanto tempo afastada da Criação. Sobre como rastreara sua exaltação até o Solar atualmente conhecido como Maze. Sobre como o vinha seguindo há tempos e sobre como ele encontrara outros de sua espécie - e que ele reconheceu como velhos amigos, e sobre como, audaciosamente, Maze havia partido com um grupo para a Ilha Abençoada, e sobre como acompanhara a mudança de sua Manse para a região de Halta, sobre como ajudara, incógnito, seus antigos companheiros.
"Acho que posso ajudá-lo", disse finalmente Rouxinol.
"Diga."
"Tenho um aprendiz na Ilha. Mandei ele para lá com o objetivo de descobrir mais sobre o Império e averiguar se os rumores sobre a Imperatriz são verdadeiros - uma guerra civil na Ilha tem um grande potencial de tornar tudo mais difícil."
"Por favor, vá direto ao ponto!"
"Eu tenho um contato entre os Siderais. Pata Branca o conhece. Ele tem um... jeito com esse tipo de coisa. certamente ele pode providenciar um encontro entre Pata Branca e o seu... grupo perdido. Assim você poderá encontrá-los."
Tur Nos se levantou, tomando a forma de uma grande águia.
"Obrigado, Rouxinol Bico-de-aço. Isso não será esquecido."
20/6/07
Postado por Sir Whiteout quinta-feira, 21 de junho de 2007 às 10:51
1 comentários:
qui. jun. 21, 12:11:00 PM 2007
Uia, agora eu também sei quem é a minha mestra...
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